quarta-feira, 19 de abril de 2017

Outros lugares

Há alguns dias pedi no Facebook uma ajuda aos colegas músicos: queria saber quem poderia indicar lugares para música autoral no RJ. Lugares que fossem bacanas, para fazer um set só, cujo preço de entrada fosse acessível. Houve algumas indicações, mas nada me animou muito. Infelizmente muitas casas eram mais restaurantes/bares do que locais para show. Outros eram um tantinho caros, ou era preciso levar todo o equipamento de som, e por aí vai.
Levantar essa questão me fez pensar em quais lugares eu gosto de tocar. Sem coincidência alguma, são os mesmos lugares que frequento para ver shows e peças. Geralmente são teatros: Sérgio Porto, Centro da Música Carioca, Parque das Ruínas etc.
Mais onde? Bem, quando se improvisa na sala de casa (como no projeto Peña Cultural; como eu já fiz, aqui em casa) acho ótimo. Quando se improvisa em alguma loja (como a Outside e o Plano B faziam; como a Baratos da Ribeiro faz), também acho que dá muito certo. E adorei o Mora Mundo, em SP, que não é teatro, nem loja, mas uma casa de artes: abriga shows, oficinas, saraus, peças...
A essência desses locais que citei é a mesma: na hora do show o foco é o show. E só isso já é ótimo. Mas também há outra questão, um pouco mais ideológica: você não precisa consumir. Você paga a entrada – ou não paga nada, ou colabora voluntariamente; depende do caso –, mas não há pressão para sentar em uma mesa e beber cerveja ou comer uma pizza. Pode consumir, se quiser, mas pode só curtir a apresentação, mesmo. Ninguém vai fazer piadinha caso sua cartela esteja vazia (isso já rolou com uma amiga, numa casa que não existe mais).
É muito bom que existam bares e restaurantes que abrigam shows, pois atendem perfeitamente ao público que curte ouvir uma música enquanto beberica, conversa e relaxa. Apenas eu, como público, tenho outras preferências. E, como artista, prefiro não colocar as pessoas que vêm prestigiar meu show em uma situação onde, além de pagar uma bela grana para entrar, elas talvez ainda se sintam levemente pressionadas a consumir algo. Depois de ter feito muitas apresentações em locais assim, entendo que prefiro fazer de outra forma. Sem culpas. 
Quando eu pedi sugestões de locais aos colegas músicos eu havia acabado de fazer dois shows próximos um do outro, e estava querendo manter o ritmo. Mas, dadas as perspectivas não muito animadoras, deixei rolar (pois, além de tudo, fechar e produzir shows é um grande gasto de energia – tem que valer a pena!) e foquei em outras coisas. Daí acabei me questionando: é tão importante assim me apresentar ao vivo? Ou será que é mais uma ansiedade, uma pressão interna para mostrar serviço? Ainda estou pensando sobre, mas cheguei a cogitar a possibilidade de ser uma artista cujo foco seria a criação, além da gravação de vídeos e faixas. Daí o que pintasse de convite para show, ótimo, eu faria com prazer. Será que seria uma boa fazer isso? Tenho minhas dúvidas, porque não posso negar que as apresentações dão uma alegria muito grande  e, quando correm bem, dão um belo gás para se seguir em frente. Mas foi bom perceber que há várias formas de operar como artista, várias possibilidades. Cada um tem que descobrir como fica melhor para si. 
Ah, duas semanas depois de eu ter jogado a pergunta sobre lugares para tocar, o artista Lineker criou e divulgou uma tabela colaborativa com o mapeamento dos locais para tocar no Brasil. Na tabela são inseridos o contato do local, a descrição da casa, a forma como funciona o pagamento, o tipo de show que a casa abriga etc. Músicos do Brasil todo podem se beneficiar das informações e inserir mais locais. 
Como disse o colega Pedro Araújo, discorrendo sobre minha pergunta no Facebook, "quem gosta da gente é a gente" (adorei essa frase): ou encontramos soluções criativas para continuarmos fazendo arte ou vamos ficar num desânimo coletivo, todos mal e ninguém se ajudando. Melhor colocar a empatia em prática, como Lineker o fez, exemplarmente.

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