Há
alguns dias pedi no Facebook uma ajuda aos colegas músicos: queria
saber quem poderia indicar lugares
para música autoral no RJ. Lugares que fossem bacanas, para fazer um
set só, cujo preço de entrada fosse acessível. Houve algumas
indicações, mas nada me animou muito. Infelizmente muitas casas
eram mais restaurantes/bares do que locais para show. Outros eram um
tantinho caros, ou era preciso levar todo o equipamento de som, e por
aí vai.
Levantar
essa questão me fez pensar em quais lugares eu gosto de tocar. Sem
coincidência alguma, são os mesmos lugares que frequento para ver
shows e peças. Geralmente são teatros: Sérgio Porto, Centro da
Música Carioca, Parque das Ruínas etc.
Mais
onde? Bem, quando se improvisa na sala de casa (como no projeto Peña
Cultural; como eu já fiz, aqui em casa) acho ótimo. Quando se
improvisa em alguma loja (como a Outside e o Plano B faziam; como a
Baratos da Ribeiro faz), também acho que dá muito certo. E adorei o
Mora Mundo, em SP, que não é teatro, nem loja, mas uma casa de
artes: abriga shows, oficinas, saraus, peças...
A
essência desses locais que citei é a mesma: na hora do show o foco
é o show. E só isso já é ótimo. Mas também há outra questão,
um pouco mais ideológica: você não precisa consumir. Você paga a
entrada – ou não paga nada, ou colabora voluntariamente; depende
do caso –, mas não há pressão para sentar em uma mesa e beber
cerveja ou comer uma pizza. Pode consumir, se quiser, mas pode só
curtir a apresentação, mesmo. Ninguém vai fazer piadinha caso sua
cartela esteja vazia (isso já rolou com uma amiga, numa casa que não
existe mais).
É
muito bom que existam bares e restaurantes que abrigam shows, pois
atendem perfeitamente ao público que curte ouvir uma música
enquanto beberica, conversa e relaxa. Apenas eu, como público, tenho
outras preferências. E, como artista, prefiro não colocar as
pessoas que vêm prestigiar meu show em uma situação onde, além de
pagar uma bela grana para entrar, elas talvez ainda se sintam
levemente pressionadas a consumir algo. Depois de ter feito muitas
apresentações em locais assim, entendo que prefiro fazer de outra
forma. Sem culpas.
Quando
eu pedi sugestões de locais aos colegas músicos eu havia acabado de
fazer dois shows próximos um do outro, e estava querendo manter o
ritmo. Mas, dadas as perspectivas não muito animadoras, deixei rolar
(pois, além de tudo, fechar e produzir shows é um grande gasto de
energia – tem que valer a pena!) e foquei em outras
coisas. Daí acabei me questionando: é tão importante assim me
apresentar ao vivo? Ou será que é mais uma ansiedade, uma pressão
interna para mostrar serviço? Ainda estou pensando sobre, mas
cheguei a cogitar a possibilidade de ser uma artista cujo foco seria
a criação, além da gravação de vídeos e faixas. Daí o que
pintasse de convite para show, ótimo, eu faria com prazer. Será que
seria uma boa fazer isso? Tenho minhas dúvidas, porque não posso
negar que as apresentações dão uma alegria muito grande – e,
quando correm bem, dão um belo gás para se seguir em frente. Mas
foi bom perceber que há várias formas de operar como artista,
várias possibilidades. Cada um tem que descobrir como fica melhor
para si.
Ah,
duas semanas depois de eu ter jogado a pergunta sobre lugares para
tocar, o artista Lineker criou e divulgou uma tabela colaborativa
com o mapeamento dos locais para tocar no Brasil. Na tabela são
inseridos o contato do local, a descrição da casa, a forma como
funciona o pagamento, o tipo de show que a casa abriga etc. Músicos
do Brasil todo podem se beneficiar das informações e inserir mais
locais.
Como
disse o colega Pedro Araújo, discorrendo sobre minha pergunta no
Facebook, "quem gosta da gente é a gente" (adorei essa
frase): ou encontramos soluções criativas para continuarmos fazendo
arte ou vamos ficar num desânimo coletivo, todos mal e ninguém
se ajudando. Melhor colocar a empatia em prática, como Lineker o
fez, exemplarmente.
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