quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Outra opção: show em casa


               No dia 8 de julho, há pouco mais de um mês, fiz um show em minha casa. Foi a terceira vez que fiz isso.
A primeira vez foi em dezembro de 2015, quando cantei algumas canções do CD Temperos. E em dezembro de 2016 fiz o segundo show em casa, dessa vez já com as canções do projeto Outra língua. Foi muito, muito bacana. E essa terceira vez, mês passado, foi ainda mais interessante.
Primeiro, porque aproveitei para comemorar meu aniversário, então só isso já deu um gosto especial à coisa – ficou um clima de celebração e encontro com os amigos. Segundo, porque foi também a despedida da casa onde morei por três anos, e por isso foi um show em uma casa mais espaçosa, quase vazia de móveis.
Eu quis muito fazer esse show também pelo fato de que seria uma forma de cantar em um sábado à noite. Com o Outra língua, fiz shows terça e quinta (Centro da Música Carioca), sábado à tarde (Baratos da Ribeiro e Parque das Ruínas) e a única sexta-feira foi em um show em São Paulo, na Mora Mundo. Mas para conseguir fazer um show no “horário nobre” de sabadão à noite, só quando eu dei um jeito. E sei que foi por essa razão que vários amigos puderam comparecer.
(Não quero mitificar o sábado, não. Pelo contrário: pessoalmente, prefiro curtir na rua de segunda a quinta e ficar em casa no FDS, talvez porque isso contrarie um pouco aquela lógica da diversão como sendo exclusiva dos finais de semana, a mesma lógica que impõe, mesmo que sutilmente, que todos os outros dias sejam apenas reservados às obrigações e nada mais. Mas é fato que muitos dos amigos somente podem estar presentes em um sábado à noite.)
Esse lance de fazer ações artísticas em casa é muito potente. Falei já, em outro texto, sobre a importância da rua. E, por mais que pareçam locais opostos, penso que a rua e a casa têm o mesmo clima de quebra de uma estrutura elitizada – estrutura que seleciona, deixa tantos artistas de fora, faz uma peneira estranha, com critérios misteriosos, ou apenas se guia por critérios financeiros, mesmo. É direito das casas de show ou bares quererem ganhar grana e consequentemente deixarem a arte em segundo plano. E é meu total direito não querer participar disso, e me limitar (quer dizer: expandir) a fazer shows apenas em locais onde eu me sinta confortável em diversos sentidos. A casa é um desses lugares. A rua é outro.
E vejo que a iniciativa de abrir a casa para a arte e para as próprias iniciativas tem se espalhado, tem se mostrado satisfatória, tem sido uma ótima ideia. O artista Alex Frechette já fez duas grandes exposições caseiras (2015 e 2016). O músico e escritor Leonardo Panço lançou seu livro Esporro em sua casa, em 2011. A cantora e compositora Deh Mussulini fez em junho deste ano um show em sua casa, em Belo Horizonte, ao lado de Sofia Cupertino. Wagner José (& Seu Bando) fará um show em sua casa, em Jacarepaguá, nesse domingo. E neste sábado, agora, irei ao show de um amigo que resolveu fechar logo três sábados consecutivos para se apresentar em sua própria casa. Este último é um show privado, e penso que o barato de fazer algo em sua própria casa é esse mesmo: você é que decide como quer – privado/aberto; gratuito/pago; bebidas à venda/esquema festa americana –, não tem que negociar com dono de estabelecimento nem aguentar cara feia e climão: pode fazer da forma que você acredita que funcionará melhor.
Tenho tocado bem pouco, ultimamente, e quero tocar muito mais, porque gosto muito de me apresentar ao vivo. Mas cada vez menos fico na sanha de aceitar qualquer coisa só para mostrar a cara. E cada vez mais quero cantar em lugares que tenham a ver comigo e com meu som. Há ainda muitos centros culturais, instituições, casas coletivas, teatros onde quero tocar. Mas por ora estou fazendo o que depende só de mim, e de mais ninguém.
Fechando: aos amigos músicos/escritores/artistas plásticos/etc. que já pensaram na possibilidade de fazer algo do tipo, diria para ao menos experimentarem, uma vezinha. Abrir a casa pode ser muito estimulante. A mim deu um gás tão grande que, no dia, após o show, nem consegui dormir direito. A adrenalina e a felicidade me impediram de parar de pensar naquele encontro tão bacana com os amigos, com a música, com a minha casa, comigo.
P.S.: Já estou há um mês e um tiquinho na casa nova, e já pensando no melhor local (quintal? ou dentro, mesmo?) e na melhor data para fazer um show aqui.


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