No dia 8 de julho, há pouco mais de um mês, fiz um show em minha casa. Foi a terceira vez que fiz isso.
A primeira vez foi em
dezembro de 2015, quando cantei algumas canções do CD Temperos. E em dezembro de 2016 fiz o segundo show em casa, dessa vez já
com as canções do projeto Outra
língua. Foi muito, muito bacana. E essa terceira vez, mês passado, foi ainda
mais interessante.
Primeiro, porque aproveitei para comemorar meu aniversário, então só isso já deu um gosto
especial à coisa – ficou um clima de celebração e encontro com
os amigos. Segundo, porque foi também a despedida da casa onde morei
por três anos, e por isso foi um show em uma casa mais espaçosa, quase vazia de móveis.
Eu
quis muito fazer esse show também pelo fato de que seria uma forma
de cantar em um sábado à noite. Com o Outra língua, fiz
shows terça e quinta (Centro da Música Carioca), sábado à tarde
(Baratos da Ribeiro e Parque das Ruínas) e a única sexta-feira foi em um show em São Paulo, na Mora Mundo. Mas para conseguir fazer um show no “horário nobre”
de sabadão à noite, só quando eu dei um jeito. E sei que foi por essa razão que vários amigos puderam comparecer.
(Não
quero mitificar o sábado, não. Pelo contrário: pessoalmente, prefiro curtir na rua de segunda a quinta e ficar em casa no FDS, talvez porque
isso contrarie um pouco aquela lógica da diversão como sendo exclusiva dos finais de semana, a mesma lógica que impõe, mesmo que sutilmente, que todos os outros dias sejam apenas
reservados às obrigações e nada mais. Mas é fato que muitos dos
amigos somente podem estar presentes em um sábado à noite.)
Esse
lance de fazer ações artísticas em casa é muito potente. Falei
já, em outro texto, sobre a importância da rua.
E, por mais que pareçam locais opostos, penso que a rua e a casa têm o mesmo clima de quebra
de uma estrutura elitizada – estrutura que seleciona, deixa tantos
artistas de fora, faz uma peneira estranha, com critérios
misteriosos, ou apenas se guia por critérios financeiros, mesmo. É
direito das casas de show ou bares quererem ganhar grana e consequentemente deixarem a
arte em segundo plano. E é meu total direito não querer participar
disso, e me limitar (quer dizer: expandir) a fazer shows apenas em
locais onde eu me sinta confortável em diversos sentidos. A casa é
um desses lugares. A rua é outro.
E
vejo que a iniciativa de abrir a casa para a arte e para as próprias
iniciativas tem se espalhado, tem se mostrado satisfatória, tem sido
uma ótima ideia. O artista Alex Frechette já fez duas grandes exposições caseiras (2015 e 2016). O músico e escritor Leonardo Panço lançou seu
livro Esporro
em sua casa, em 2011. A cantora e compositora Deh Mussulini fez em
junho deste ano um show em sua casa, em Belo Horizonte, ao lado de Sofia Cupertino. Wagner José (& Seu
Bando) fará um show em sua casa, em Jacarepaguá, nesse domingo. E
neste sábado, agora, irei ao show de um amigo que resolveu fechar logo três sábados consecutivos para se apresentar em sua própria
casa. Este último é um show privado, e penso que o barato de
fazer algo em sua própria casa é esse mesmo: você é que decide
como quer – privado/aberto; gratuito/pago; bebidas à venda/esquema
festa americana –, não tem que negociar com dono de
estabelecimento nem aguentar cara feia e climão: pode fazer da forma
que você acredita que funcionará melhor.
Tenho
tocado bem pouco, ultimamente, e quero tocar muito mais, porque
gosto
muito de me apresentar ao vivo. Mas
cada vez menos fico na sanha de aceitar qualquer coisa só para
mostrar a cara. E cada vez mais quero cantar em lugares que tenham a
ver comigo e com meu som. Há ainda muitos centros culturais, instituições, casas coletivas, teatros onde quero tocar. Mas por ora estou fazendo o que depende só de mim, e de mais ninguém.
Fechando: aos amigos músicos/escritores/artistas plásticos/etc. que já pensaram na possibilidade de fazer algo do tipo, diria para ao menos experimentarem, uma vezinha. Abrir a casa pode ser muito
estimulante. A mim deu um gás tão grande que, no dia, após o show, nem consegui
dormir direito. A adrenalina e a felicidade me impediram de parar de
pensar naquele encontro tão bacana com os amigos, com a música, com
a minha casa, comigo.
P.S.:
Já estou há um mês e um tiquinho na casa nova, e já pensando no
melhor local (quintal? ou dentro, mesmo?) e na melhor data para fazer
um show aqui.
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