Divulgação da edição Inconfidentes (Mariana/Ouro Preto) do Sonora
Ano passado, em agosto, tive a alegria de conhecer o festival Sonora. Na edição de São Paulo, com Dory de Oliveira e Orquídeas do Brasil, filmei um pouco dos dois shows – houve um chamamento para voluntárias em fotografia e vídeo, e lá fui eu. Foram dois shows incríveis. E foi muito importante conhecer de perto essa iniciativa, então em sua primeira edição.
Ano passado, em agosto, tive a alegria de conhecer o festival Sonora. Na edição de São Paulo, com Dory de Oliveira e Orquídeas do Brasil, filmei um pouco dos dois shows – houve um chamamento para voluntárias em fotografia e vídeo, e lá fui eu. Foram dois shows incríveis. E foi muito importante conhecer de perto essa iniciativa, então em sua primeira edição.
Mas,
um pouco antes disso, eu estava já me sentindo mais unida a outras mulheres
compositoras, graças ao grupo Mulheres Criando, criado no Facebook para servir
de reunião e diálogo entre as compositoras. O grupo surgiu após a hashtag
criada pela musicista Deh Mussulini ter se espalhado pela rede, em fevereiro do
mesmo ano (2016). O “aviso” #mulherescriando havia sido uma forma de mostrar a
grande quantidade de mulheres compondo suas próprias canções, e foi também uma
forma de incentivá-las a mostrarem, em vídeos que acompanhavam a hashtag, essas
composições. (Vale dizer que, além do Sonora, a mostra Mulheres Criando surgiu também
daí, movimentando shows de mulheres em cidades como BH, principalmente, mas
também em SP e no RJ.)
No
dia 2 de setembro, há um mês e meio, toquei no festival Sonora, na edição
Inconfidentes, em Mariana/MG. Dividi o palco com Ludmilla Rainha, Karine
Campos e Amanda Gasparetto, e tudo foi harmônico e prazeroso do início ao fim, em cada detalhe.
Fiquei na casa de Mo Maiê – uma das compositoras organizadoras do evento – e
fui muito bem recebida. Os três técnicos do Sesi Mariana foram solícitos e
amigos. Aliás, foi bacana chegar para a passagem de som e ver que um destes
três profissionais, a técnica de palco, era mulher – parece um detalhe, mas
para mim isso deixou claro que ali as coisas eram diferentes e fora da caixa.
Fiquei
ainda com mais vontade de escrever sobre o Sonora após ver um vídeo onde LaBaq,
idealizadora do projeto junto com Deh, falava sobre a importância das mulheres
se sentirem seguras de mostrarem e cantarem suas próprias canções. Achei essa
fala crucial. Porque são iniciativas como essas que me fazem, de fato, ficar
mais à vontade para mostrar o que faço, visto que fiquei bastante tempo
cantando o que os outros compunham. Sendo que estes "outros" eram
quase sempre homens, é claro.
E
as mulheres? Por que só ultimamente venho conhecendo / prestando atenção
naquilo que as mulheres compõem? Algumas sempre estiveram aí, é claro. Mas
outras apenas ultimamente começaram a mostrar suas criações (como eu). O
resultado é uma grande onda de mulheres criando. E criando coisas lindas, que me fazem pegar o violão e cantar e também me inspiram a compor.
Estamos
sim mais confiantes, mais felizes, mais à vontade com nós mesmas e mais
orgulhosas daquilo que produzimos. Por isso a fala de LaBaq foi certeira.
Ganhamos a cada dia mais confiança, e por isso estamos criando cada vez mais.
Lembrei
também da questão do instrumento. Vejo que muitas de nós adoramos tocar um
violão, um teclado, uma percussão etc. Mas quantas de nós conseguimos vencer a
barreira da própria dúvida e nos tornamos instrumentistas? Ou: quantas de nós,
mesmo sem a intenção de nos tornarmos instrumentistas, aprendemos algum
instrumento? Muitas, sem dúvidas. Mas muitas não se arriscaram nesta seara,
como se instrumento fosse coisa de homem. Eu, por exemplo, sempre vi a coisa
assim, mesmo tocando desde cedo. Nunca me dediquei de verdade. Por preguiça,
com certeza, e talvez por saber que não era exatamente aquilo o que eu mais
amava (o que eu mais amei sempre foi cantar, mesmo sem assumir). Mas será que a pouca quantidade de guitarristas mulheres ao meu redor fez com que que eu achasse que aquilo não era muito para mim? Não sei. Talvez! O que sei é que sempre que vi uma
mulher tocando bem, segura de si, linda, achei aquilo "diferente". Mesmo
hoje, quando vejo mais e mais cantoras tocando muito bem, ainda não me
acostumei totalmente com isso, me parece ainda uma novidade (o que está longe
de ser verdade, vide Badi Assad, Joyce, Nara Leão e muitas outras). Hoje há
tantas cantoras-violonistas incríveis, como Clara Gurjão, Michele Leal, Luísa Lacerda, Deh Mussulini, e mesmo sabendo disso parece que a minha ficha ainda não caiu totalmente.
Quantas
mulheres existem por aí com o desejo de aprender algum instrumento e se achando
incapazes disso? Ou achando que já passou a hora, que não dá mais tempo (aquele
papo chato de que é na infância que tudo começa, senão, sem chances)? Quantas
não realizarão este sonho? Quantas nunca matarão esta vontade? Espero que cada vez menos. E certamente estas iniciativas de união feminina servem para ajudar neste sentido também, promovendo o encontro de mulheres compositoras-cantoras, instrumentistas, produtoras de áudio, técnicas de som etc.
Vejo que não dá para falar em Sonora e Mulheres Criando sem entender que tudo isso que aconteceu e acontece, essa grande movimentação de shows e essa grande movimentação interna, de mulheres se sentindo mais capazes, acontece graças ao feminismo. E o feminismo, lamentavelmente, ainda é visto como algo risível, algo que mesmo a galera de esquerda pode rir, fazer piada, classificar como sendo um tópico “chato”. Incomoda, e muito. E é triste ver até mesmo algumas mulheres entendendo errado e achando que trata-se de uma guerra aos homens – querendo, assim, mostrar que não "precisam disso", afinal são muito amigas dos homens. Amigas dos homens todas nós somos, uai. A questão não é essa. É buscar mais liberdade, é lutar para eliminar quaisquer repressões acerca de nossas vidas, nossos corpos, nossas profissões, hábitos etc. Se alguém se sente incomodado com o feminismo, pode ser porque toda quebra de estruturas sedimentadas dá medo, mesmo; mas também pode ser por gostar da clássica competição Clube do Bolinha x Clube da Luluzinha; por medo de não conseguir mais dominar aquelas que há tempo são dominadas; ou por medo de ser desmascarado em suas péssimas ações machistas/violentas – essa última opção aí foi a que reinou durante a hashtag #meuamigosecreto, lembram? O que vi de homem achando aquilo um absurdo, se sentindo acuado e vestindo a carapuça não está no gibi. Que bandeira! (“O machismo é o medo dos homens das mulheres sem medo”, já dizia Eduardo Galeano.)
Vejo que não dá para falar em Sonora e Mulheres Criando sem entender que tudo isso que aconteceu e acontece, essa grande movimentação de shows e essa grande movimentação interna, de mulheres se sentindo mais capazes, acontece graças ao feminismo. E o feminismo, lamentavelmente, ainda é visto como algo risível, algo que mesmo a galera de esquerda pode rir, fazer piada, classificar como sendo um tópico “chato”. Incomoda, e muito. E é triste ver até mesmo algumas mulheres entendendo errado e achando que trata-se de uma guerra aos homens – querendo, assim, mostrar que não "precisam disso", afinal são muito amigas dos homens. Amigas dos homens todas nós somos, uai. A questão não é essa. É buscar mais liberdade, é lutar para eliminar quaisquer repressões acerca de nossas vidas, nossos corpos, nossas profissões, hábitos etc. Se alguém se sente incomodado com o feminismo, pode ser porque toda quebra de estruturas sedimentadas dá medo, mesmo; mas também pode ser por gostar da clássica competição Clube do Bolinha x Clube da Luluzinha; por medo de não conseguir mais dominar aquelas que há tempo são dominadas; ou por medo de ser desmascarado em suas péssimas ações machistas/violentas – essa última opção aí foi a que reinou durante a hashtag #meuamigosecreto, lembram? O que vi de homem achando aquilo um absurdo, se sentindo acuado e vestindo a carapuça não está no gibi. Que bandeira! (“O machismo é o medo dos homens das mulheres sem medo”, já dizia Eduardo Galeano.)
Mas, voltando: eu sei que a
troca entre mulheres ainda pode ser algo difícil e pode dar um pouco de
receio/desconfiança. Por inúmeras razões às vezes o encontro e a amizade não acontecem. Mas é vital tentarmos quebrar ao
máximo essa competitividade que, digo sem medo de errar, não é algo exclusivo
do universo feminino, mas da sociedade em geral. E, na verdade, o que mais
tenho visto nesta "aterradora" (hahah) onda feminista que estamos
vivendo são mulheres se ajudando a torto e a direito, em um companheirismo
muito forte e eficaz. Por isso usei a palavra "aterradora" para falar
do que vem acontecendo: mulheres se unindo é algo que não sei se alguém consegue
frear. Depois que a gente descobre que pode se ajudar, ferrou (no melhor dos
sentidos).