No
dia 12 de abril de 2016, ao ouvir a campainha tocando, pensei:
“ferrou!”. Deu nervoso, mas fui atender a porta, pois não tinha
mais saída. Era me assumir ou me assumir.
Muito
frisson por nada, diria o Bardo, mas aquela seria a primeira vez que
eu mostraria a alguém minhas músicas. Quem chegava era o Pedro,
guitarrista que vinha ensaiar comigo. Havíamos combinado aquele
ensaio-conversa três semanas antes, na inauguração do estúdio de
um amigo.
Embora
pareça besteira, aquele dia foi, sim, muito significativo para mim.
Aliás, entendi há pouco tempo que as coisas mais importantes para
nós, nossas maiores conquistas, podem parecer completas besteiras
para terceiros. Mas desde 2007 eu não compunha praticamente nada,
não criava sozinha (viciada que estava em compor em cima de
harmonias que o guitarrista de minha antiga banda fazia – depois de
extinta a banda, tornei-me intérprete). Apenas em 2015 voltei a
criar. E creio que todos saibam como é difícil mostrar algo para
outra pessoa pela primeira vez. Uma poesia, uma coreografia, uma
decoração, até mesmo uma ideia: é estranho sair daquele âmbito
onde só você, até então, avaliava algo. Sentimo-nos um pouco
estranhos, nus. Essa solidão de criar algo só seu e saber que
ninguém nunca fez nada exatamente igual àquilo pode dar bastante
insegurança. E a crença (irreal) de que algo que fizemos talvez não
se comunique com ninguém também não é nada reconfortante.
Exatamente
por isso a sensação que veio depois dessa primeira exibição foi
muito boa. Se agora estava me sentindo ainda mais vulnerável, por
não estar respaldada pelas composições de terceiros, ao mesmo
tempo percebi que estava muito mais livre. Não apenas por estar
quebrando uma barreira, um bloqueio de me mostrar como autora das
músicas que cantava, mas também por perceber que estava sendo
prazeroso fazer aquilo. Mesmo mostrando as canções timidamente para
Pedro, eu estava lá, tocando o violão e cantando, e até gostando
delas.
Desde
lá fomos ensaiando uma ou duas vezes por semana, e os dias de ensaio
foram se tornando os dias mais interessantes da semana. Porque aquele
era o momento em que eu estava fazendo aquilo que eu precisava fazer.
Sem enrolar, sem ficar procurando obrigações apenas para fugir do
que me dava medo e era essencial enfrentar.
(Aliás,
sobre enrolar e não ir direto ao ponto, sempre lembro dos versos de
Karina Buhr em "Guitarristas de Copacabana": "Por
falta de consciência tranquila / Passou o dia cozinhando arroz na
panela / Que pressão! / E agora estragou os versos / E ainda
explodiu o fogão" – provavelmente Karina estava falando sobre
outra coisa, mas fato é que sempre uso estes versos para me lembrar
do quanto ficamos fazendo tarefas banais para não enfrentar nossas
obrigações mais difíceis.)
Dei
o nome deste projeto de Outra língua. Nome do show, do
possível CD, deste blog, também do possível livro. Porque agora me
sinto falando outro idioma, um pouco mais difícil, ficando naquela
situação típica de quem ainda se sente inseguro em uma língua
estrangeira: muita vulnerabilidade, mas também uma baita satisfação
por estar superando a vergonha e fazendo algo difícil.
E
por isso resolvi fazer um outro blog, ao invés de continuar
atualizando o antigo. Aquele, iniciado, em 2013, é um blog que eu
associo muito ao universo de uma intérprete. Este aqui terá a mesma
essência – falar sobre música através de minhas experiências –,
mas acolherá também questões ligadas à criação e seus desafios.
Ou, ao menos, essa é a ideia inicial.
Que conexão a nossa! Tô boba. Feliz pelo teu momento, Guidinha!!!
ResponderExcluir"Coincidências": ontem acordei lendo seu livro. Hoje também!
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