Nós, que gostávamos tanto dele, estávamos ansiosos esperando por sua volta, torcendo para que ele chegasse de surpresa. Quando isso acontecesse, nós estaríamos lá, no gargarejo, matando uma vontade antiga, e certamente seria lindo. Mas não deu: ele morreu dia 30 de abril, e ficamos nós, os admiradores de suas incríveis canções, frustrados.
Engraçado que a morte do Belchior nos levou a um caso raro: aquele onde um artista é mencionado a torto e a direito, hypeado, lembrado com insistência -- assim como tem acontecido com o Raça Negra, sabe? -- ainda antes de seu óbito. Ele andava sendo lembrado em estênceis em muros e postes (Escute Belchior), pichações e cartazes (Fora Temer, volta Belchior), shows em sua homenagem (Daíra canta Belchior) e até bloco de carnaval (o mineiro Volta, Belchior). Era uma saudade coletiva enorme. Dessa vez, não dá para implicar dizendo que “só lembram do cara na hora que ele morre”: infelizmente para os rabugentos, ele estava sendo requisitado há tempos; seu nome estava mais do que rodado entre as boas e más línguas.
Eu queria muito tê-lo visto ao vivo. Mas, ao menos, restam suas canções, gravadas, regravadas. Resta sua poesia. Restam a melodia e letra perfeitas de “Na hora do almoço”, resta seu jeito inconfundível de cantar, resta seu vasto repertório que vai do intenso ao quase cômico (foi por medo de avião que eu segurei pela primeira vez a tua mão). Resta tanto! Deve ser por isso que a gente não quer parar de falar dele.
Eu queria muito tê-lo visto ao vivo. Mas, ao menos, restam suas canções, gravadas, regravadas. Resta sua poesia. Restam a melodia e letra perfeitas de “Na hora do almoço”, resta seu jeito inconfundível de cantar, resta seu vasto repertório que vai do intenso ao quase cômico (foi por medo de avião que eu segurei pela primeira vez a tua mão). Resta tanto! Deve ser por isso que a gente não quer parar de falar dele.
Engraçado foi conectar a partida de Belchior -- ocorrida dia 30 de abril -- à Greve Geral -- ocorrida dois dias antes, no 28.
Os grevistas foram tão, mas tão desrespeitados pela mídia e principalmente pelos furiosos das redes sociais que chegou a assustar. Mas tenho certeza que não havia apenas furiosos dentre os que não aderiram à greve. Não havia apenas pessoas freudianamente putas com aquelas que tiveram a coragem de deixar o emprego (por um dia, apenas), ou recalcadas em relação àquelas que meteram o dedo na ferida e mostraram o absurdo que estamos vivendo: havia também, tenho certeza, entre os antigreve, pessoas que tinham certeza de que o trabalho é a qualidade máxima do cidadão. Certamente havia e há pessoas querendo poder trabalhar em paz, e, porra, aquele bando de gente doida, que nem se sabe de onde saiu, vem e atravanca o trânsito.
Os grevistas foram tão, mas tão desrespeitados pela mídia e principalmente pelos furiosos das redes sociais que chegou a assustar. Mas tenho certeza que não havia apenas furiosos dentre os que não aderiram à greve. Não havia apenas pessoas freudianamente putas com aquelas que tiveram a coragem de deixar o emprego (por um dia, apenas), ou recalcadas em relação àquelas que meteram o dedo na ferida e mostraram o absurdo que estamos vivendo: havia também, tenho certeza, entre os antigreve, pessoas que tinham certeza de que o trabalho é a qualidade máxima do cidadão. Certamente havia e há pessoas querendo poder trabalhar em paz, e, porra, aquele bando de gente doida, que nem se sabe de onde saiu, vem e atravanca o trânsito.
E o que é que Belchior tem a ver com isso?
Ele parece ter sintetizado esse cidadão incomodado com a greve de forma perfeita: “era feito aquela gente honesta, boa e comovida / que caminha para a morte pensando em vencer na vida”.
Essa gente que, como disse o poeta, “tem no fim da tarde a sensação da missão cumprida”.
Essa gente que, como disse o poeta, “tem no fim da tarde a sensação da missão cumprida”.
(Acho que esse post era só mesmo uma forma de eu dizer que amo essa canção, adoro Belchior e a saudade aumentou. E eu não peço desculpas, e nem peço perdão, por gostar dele e por falar dele neste momento brasileiro tão belchiorado.)
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