Há
uma semana me apresentei na Mora Mundo, casa bacaníssima em São Paulo. Além de
ter sido a primeira vez que cantei (com o show Outra língua) na Sampa de que
tanto gosto, o que por si só já teria me alegrado, este foi um show onde
percebi algumas coisas importantes.
Eu
havia conhecido a Mora Mundo no início de abril, para ver o show de Selma
Fernands, e havia sido delicioso. Além do show-abraço de Selma (afeto puro!),
conheci as gestoras daquela casa multiartes: Fernanda, Paula, Alessandra e
Dani, todas carinhosas e receptivas.
Voltar lá, dessa vez para fazer o show, foi muito bom. Eu
estava animada de tocar em um ambiente que preenchia todas as minhas ânsias: preço da entrada
acessível, nenhuma pressão para consumir, ambiente acolhedor. Estava animada
por estar em um lugar onde era visível a preocupação com a arte, com o artista
e com quem vinha prestigiar (todos sempre muito bem recebidos pelas donas da
casa).
Desde
a passagem de som estávamos todos bem e tudo ia fluindo, mesmo eu tendo
esquecido – lá no Rio de Janeiro – um cabo de microfone (a tensão foi dissipada
quando Paula conseguiu com um amigo, Henri, o cabo faltante); mesmo tendo
chovido torrencialmente enquanto testávamos os microfones (chuva em dia de show
= terror do artista). Mesmo assim eu sentia que já estava ganhando, porque nós
quatro (eu, Pedro, Sandro e Alex) já éramos um time, e desde que Fernanda abriu
a porta da Mora Mundo e nos recebeu com sua alegria e covinhas o time ficou
maior.
O
show começou atrasado devido à chuva e o cabo, mas com o tempo os amigos
chegaram, fiquei feliz, começamos.
E
lá pela quinta música, creio, fui falar alguma coisa e senti a necessidade de
falar que aquele já estava sendo o melhor show do Outra língua. Tive que falar
porque de fato estava tão óbvio para mim que não falar seria errado. Ou, talvez
não fosse uma questão de melhor ou pior; talvez tivesse mais a ver com, naquele momento, aquele parecer
o espaço perfeito para o tipo de canção que apresentávamos, para o tipo de
pessoa que eu sou, e também para as pessoas que vieram nos
prestigiar. Percebi isso e dividi com quem estava lá, e que bacana estar à
vontade para dizer isso. Saí da Mora já querendo agendar um próximo show,
porque talvez seja difícil achar um lugar que tenha tão a ver com as coisas que
acredito e quero.
Além disso consegui entender, ali mais para o final do set list, que essa Outra língua é feminina, muito. Eu já havia
percebido minha ênfase ao falar das parceiras de composição, por exemplo, mas
foi apenas durante esse show que entendi que o projeto Outra língua teve como motor minha questão com
as mulheres. Que na hora da criação, propriamente dita, muito do que me moveu
foi falar delas, do que ainda não está ok, das mulheres que admiro, da vontade
de aproximação. Entendi que o que me motivou a voltar a criar, depois de
tanto tempo apenas interpretando, foi falar sobre o universo feminino e minha
sensação de outsider em relação a este. E tantas outras
coisas em relação a este tópico que não daria para falar aqui sem fazer um
texto longo, longuíssimo.
Deve
ter sido porque vi Carol, Denise, Cecília, Mirian, Isabela, Paula, Fernanda, aquela energia feminina junta, seus olhares atentos, e isso me obrigou a
entender o que é que eu estava fazendo ali: eu estava falando sobre elas e
sobre mim, muitas das vezes.
O
saldo final de um dia chuvoso – em que tantos ficaram em casa – foi ver,
também, o quanto foi frutífero me arriscar, nesse caso. Ir para outra cidade e investir grana valeu muito. Vi pessoas ao meu lado, e eu ao lado delas,
ali. E Pedro ter comprado essa briga fez toda a diferença; e Sandro
também, interrompendo seu outro trabalho para poder estar presente e fazer uma
linda participação; e Alex também (expondo, nas paredes do Mora Mundo,
aquarelas que falavam de afetos, de vozes, de amizade, de relações líquidas), desde o RJ nos ajudando a carregar (em todos os sentidos) aquela empreitada.
E as pessoas que nem estavam lá fisicamente, como Peter e Marcelo, que
emprestaram o equipamento para que o show acontecesse, compraram essa briga do mesmo jeito.
Além
de entender o tamanho da importância das mulheres no que tenho feito; além de
entender o valor do risco; entendi ainda mais o valor de quem está mesmo do
nosso lado, de quem fecha conosco. Ia dizer que ter noção disso “vale ouro”,
mas vale muito mais.
Certo
dia Larissa Baq escreveu algo que gostei tanto que guardei comigo. Acho que
essas palavras resumem um pouco o que senti fazendo esse show: “Ei. Combina aí
de ficar perto de quem quer mesmo ficar perto de você. A vida muda e flui.”
E
o mundo fica bom e leve, parece até outro mundo. E que bom que esse outro mundo nada mais é do
que o mesmo, apenas em sua melhor forma, sua melhor possibilidade.
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