sábado, 20 de maio de 2017

Outros olhares sobre o vazio

Esses dias encontrei por acaso um amigo na rua que, ao perguntar sobre o show que eu havia feito dias atrás, no Parque das Ruínas, mandou: “Mas deu público? Porque quando fui ao show do Fulano, lá mesmo, havia apenas eu e mais duas pessoas. Fiquei até constrangido!”
O engraçado é que eu havia pensado exatamente nesta questão um dia antes. Estava pensando sobre o quanto adoro ver muitas pessoas na plateia, mas, curiosamente, consigo aproveitar o show quase vazio, que, apesar de suas grandes desvantagens – econômicas, inclusive –, me deixa ainda mais à vontade. Pouca gente me assistindo faz com que eu me sinta em um ensaio aberto. E eu pensara nesse ponto específico que o colega viria a mencionar um dia depois: minha sensação de estar mais à vontade provavelmente não era a mesma de quem estava no público. Talvez muitos se sentissem constrangidos, embaraçados, “poxa, coitada”, “ai, nem tá clima de show...” (Estou apenas deduzindo, através de minhas próprias sensações em outros shows, anos atrás. Felizmente hoje penso diferente – é claro que eu gostaria de ver shows de artistas incríveis sempre cheios, lotados, mas isso não estraga em nada meu prazer de ver um show, nem me constrange.)
Lembrei agora de uma festa de aniversário que dei, há uns dez anos. Tinha sido uma festa gostosa, e eu me alegrara como sempre me alegro em meus aniversários. Dias depois, uma amiga veio comentar: “Poxa, achei que ia ter mais gente...”. Engraçado que para mim a festa, além de cheia (cada um com seus padrões), havia sido divertida e contara com as pessoas certas – os amigos mais próximos à época –, mas talvez outras pessoas, além dela, não tenham se sentido assim. Faz parte! Mas, pergunto: quando vamos a um show, vamos ver a arte do artista – música, expressão, voz, técnica etc. – ou estamos lá para fazer uma social? Provavelmente os dois, em muitos casos. Quando vamos a um aniversário queremos celebrar com o aniversariante ou vamos pela vontade de fazer uma social? Também acho que as duas opções, em muitos casos. Nada de errado nisso! Só é bacana a pergunta ser colocada, por uma pura questão de autoconhecimento.
Achei engraçado o fato do amigo mencionado comentar justamente com a palavra “constrangedor” o fato de um show estar quase vazio. Essa foi a exata palavra que me veio à mente ao pensar no que talvez sentissem os espectadores. Mas, de minha parte, repito: vou curtir o show do Mateus Aleluia no SESC Ginástico esteja ele lotado ou com apenas mais três pessoas. Vou fazer o show no teatro do Parque das Ruínas feliz, esteja ele com dez espectadores ou com a casa cheia (com nenhuma pessoa, eu não conseguiria me apresentar, não mesmo), embora eu sempre vá preferir que esteja cheio.
Mencionei rapidamente a questão econômica, mas esse é um assunto importante. Acho fundamental ressaltar que a cada vez que uma pessoa vai a um show, a uma peça, a um espetáculo de dança e paga por isso, está ajudando muito. E às vezes acho que os pagantes não têm noção do quão grande é essa ajuda. Eu, por exemplo, tenho feito poucos shows, mas os mesmos acabam se pagando e tendo um final feliz graças aos 10 ou 15 reais que os amigos investem para me ver. Faz uma diferença muito grande. E sei que quando pago para assistir a uma peça, também colaboro bastante. Talvez, graças a mim e aos outros nove espectadores, os atores não precisem tirar nada do bolso para pagar o bilheteiro. Talvez o músico consiga voltar para casa com alguma grana após o show. Talvez. Por isso acho importante prestigiar aqueles que admiro. Não é esforço, é prazer para mim e bom para o artista. (Deixo claro que estou falando do universo que frequento, majoritariamente independente – sem editais, sem nada; quando muito, na base do financiamento coletivo.)   
Esses dias escrevi no Facebook que estava pensando em iniciar uma campanha: "Leve um amigo para algum show independente". É claro que não é campanha nenhuma, é só uma atitude que quero adotar cada vez mais e quero também sugerir a outros. Já levei amigos a alguns shows de artistas que curto e, além de batermos papos – antes e depois do show, é claro – e matarmos as saudades, os amigos gostam do show e saem conhecendo e admirando mais uma banda ou músico. É bom pro artista, pro amigo e pra mim. Além de curtir, fomentamos os espaços artísticos, e não aqueles de puro consumo. Muito melhor, não? 

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