segunda-feira, 22 de maio de 2017

Outra forma de aprender

A ideia de dar aulas de canto nunca me atraiu. Gosto de ter aulas de voz, mas a ideia de ser a professora, ao mesmo tempo que me intimidava (será que consigo dar uma boa aula?),  me enfadava (deve ser meio chato, não?). Sempre que alguma pessoa me perguntava sobre a possibilidade de ter aulas comigo eu negava prontamente e já indicava uma amiga – ótima professora, com quem aprendi muito – para encerrar de vez aquele assunto.
Mas acontece que faço parte de um grupo de escambos entre mulheres, no Facebook, onde rolam várias trocas interessantes. E foi apenas por estar neste grupo que a ideia me ocorreu: eu vi tantas pessoas conseguindo realizar várias empreitadas de forma colaborativa que me deu uma vontade (inesperada) de dar aulas de canto. Pensei que, sim, era algo que eu tinha a oferecer: minha experiência com a voz. Não era uma questão de “sei lecionar”, mas de “eu canto há bastante tempo e posso ajudar outras pessoas com isso”. E, sendo na base do escambo, aí sim ficava totalmente possível passar adiante o que eu sabia.
Ofereci as aulas, e algumas meninas se interessaram. Em troca, eu pedi algo que elas pudessem oferecer, porque o importante era que eu pudesse exercitar a professora em mim, sem a pressão de estar recebendo dinheiro por aquilo. E eu não estava em busca de nada específico, à época – nada além de saber como seria isso de ajudar alguém a ficar mais à vontade com a própria voz.
Lembro que no primeiro dia eu estava nervosa, mas curiosamente o fato da aula inaugural ser com duas alunas, logo, deixou a coisa mais leve. Amigas, as duas ficaram mais descontraídas, e isso aliviou bastante a pressão que eu estava me colocando. Até sobrevivi, veja só!
   Desde outubro, data em que as aulas começaram, até agora, vejo o quanto aprendi neste processo. Nunca esqueço da fala de Lula, professor da Martins Penna: “Quer aprender algo? Vá dar aulas sobre o assunto. É a melhor forma de aprender.” Além de ser uma visão muito mais interessante sobre o ato de lecionar (não como “dom”, algo inato e quase sagrado, mas como algo que se aprende com o tempo, na prática, no suor), essa fala também me colocara a pulga atrás da orelha. Eu sabia que se algum dia tivesse a experiência de ensinar algo, aprenderia bastante, e essa ideia me animava. Só não imaginava que isso se concretizaria com o canto.
Diria que há dois grandes ganhos nessa minha experiência: eu, que há tempos não tenho aulas de canto, estou me beneficiando muito da disciplina que preciso ter quando estou com os alunos. Exercito a voz, pratico vocalizes, aqueço... Ultimamente tenho me sentido como se estivesse resolvendo um débito com a minha própria voz, finalmente voltando a estudá-la e a pensá-la.
E a outra coisa muito boa é poder ver as pessoas se descobrindo, sabendo mais sobre o próprio corpo, encontrando nelas mesmas capacidades que ainda estavam escondidas, ou adormecidas. Essa sexta ouvi uma aluna dizer que fazer aulas era um “sonho antigo”, e é muito bacana presenciar esses sonhos se concretizando. Enquanto isso, eu mesma vou, daqui, também me entendendo mais e realizando não exatamente um sonho, mas uma função que antes me intimidava bastante. Agora, só me intimida um pouco – um nervosinho sempre rolará com alunos novos, acredito (será que ele/ela vai gostar?)...
Fico satisfeita por ter quebrado esse tabu, e também por saber que as aulas têm agradado aos alunos, também. No meu horário não cabem mais aulas, por ora, e vejo isso como um bom sinal: talvez eu não precisasse ter tido tanto receio desse ofício. Não sei se quero fazer isso para sempre – e essa não é uma questão importante –, mas fico feliz de ter desmistificado o ato de ensinar.

2 comentários:

  1. Amei, coração! Perfeito! :)! Vivendo e aprendendo de todas as formas :)! Parabéns pra você! Sddss, beijosss- e quem sabe, permi]utasss rsrs (saiu semquerer!! olha so!!) kkk...

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